sábado, 26 de dezembro de 2009

QUADRIPLÉGICOS - Neurobiólogo brasileiro lidera pesquisa sobre uso da robótica

Por Rafael Cabral

São Paulo, 02 (AE) - A fusão entre cérebro e máquina pode, antes do que se imaginava, trazer o seu primeiro grande resultado - e o principal responsável por isso é um cientista brasileiro. Miguel Nicolelis, paulistano, 48 anos, formado pela USP, chefia um dos mais avançados laboratórios de neurociência do mundo, o de Duke, na Carolina do Norte.

Eleito um dos 20 cientistas mais importantes do mundo pela revista "Scientific American", Nicolelis é considerado o número 1 em sua especialidade, a neurobiologia. Seu maior projeto? Conectar mente e robótica para fazer que quadriplégicos voltem a andar.

Já faz quase 10 anos que uma equipe liderada por ele conseguiu conectar o cérebro de um macaco a um computador, fazendo que o primeiro controlasse o segundo por meio de pensamentos. Em 2008, isso aconteceu novamente - mas, dessa vez, com o bichinho nos Estados Unidos e as pernas mecânicas no Japão. O resultado é que, mesmo nessa situação, a resposta robotizada é tão rápida quanto a do corpo biológico.

O pano de fundo desse experimento é a ideia de que, se fizermos que um chip - ou uma 'neuroprótese' - capte os sinais da mente e transmita-os para um membro artificial em 200 milissegundos (que é o tempo em que um braço biológico responde aos impulsos), o cérebro entenderá aquela prótese mecanizada como uma parte do corpo.

A experiência pioneira de 2000 hoje começa a tomar formas mais práticas e logo deve fazer parte do cotidiano. "Já publicamos um trabalho mostrando a devolução do sinal de um computador diretamente para o cérebro humano", afirma Nicolelis em entrevista à reportagem.

O brasileiro é um dos principais nomes de um projeto global chamado "Walk Again", que une pesquisadores para construir uma espécie de exoesqueleto para humanos, nos moldes daquele dos besouros.

Ligando a mente diretamente a um "terno" robótico (já em desenvolvimento), seria possível trazer movimentos de volta às pernas e aos braços de pessoas paralisadas, que controlariam a estrutura com pensamentos.

"É como um tenista com uma raquete. Como ele a usa sempre, aquela ferramenta é assimilada como uma extensão do corpo. Com a interface cérebro-máquina, isso já está ocorrendo, pois alguns experimentos dizem que o corpo pode se acostumar de forma mais rápida do que nesse exemplo que eu dou, pois há uma ligação direta entre os estímulos neurais e o robô", explica o médico, que hoje busca adaptar seus projetos para o uso clínico.

CIÊNCIA HÍBRIDA

Um dos principais expoentes dos estudos da cérebro, que devem estar no centro das discussões científicas dos próximos anos, Nicolelis acredita que a ligação entre a tecnologia e a mente é indispensável para a solução de problemas em ambas as áreas.

"Estamos investigando o sistema nervoso como uma forma distribuída e, com isso, estamos aprendendo o que acontece quando colocamos milhões ou bilhões de elementos trabalhando juntos. É uma ciência completamente nova e os computadores, muito inferiores na capacidade de analisar e entender contextos, só têm a aprender com a mente", diz o fundador do Instituto de Neurociência que funciona desde 2005 em Natal, no Rio Grande do Norte, e que repatriou diversos pesquisadores brasileiros.

As máquinas, ao simular situações pelas quais o cérebro passa, também são parte fundamental da nova neurociência que, apesar de já mostrar resultados, ainda dá os seus primeiros passos na compreensão total da mente.

Por isso, em 2010, o chamado "Campus do Cérebro" idealizado por Nicolelis receberá um supercomputador Blue Gene/L, capaz de fazer 42 trilhões de operações por segundo - uma doação da Universidade de Lausanne, na Suíça. "Acho que, com essa união entre computação e cérebro, só temos a evoluir", finaliza.

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